Moradora do Sumaré, ela fala sobre a carreira e conta que desde sempre escolheu a música. Pianista, arranjadora, compositora, tem seis CDs gravados e é precursora do ritmo eletrônico drum’n’bossa, mix de drum’n’bass e MPB, que teve a música “Sambassim” estourando nas pistas de Londres, onde ficou por seis meses estudando o ritmo que a atraiu e é uma das referências no cenário musical atual.
Você nasceu em São Paulo?
Nasci em Serra Negra, mas vim de lá pequena e só voltei depois de adulta.
Que influências você teve para seguir a carreira de música?
Minha mãe é formada em piano erudito e minha avó paterna também. Tínhamos um piano em casa e minha mãe sempre tocava. Com quatro anos, eu estudava flauta. Mais tarde, no Colégio Santa Marcelina, sempre estava fazendo composições para os festivais de música.
Você ganhou alguns desses festivais?
Sim. Nessa época minhas composições tinham um quê de bossa nova e pop. Eu até deixava as colegas entrar como parceiras das músicas e elas me incluíam nos trabalhos de português e matemática. Já estava vivendo de música. Mas só compunha.
E os outros instrumentos?
Eu tinha uma madrinha que a cada ano me presenteava com um instrumento de brinquedo. Ganhei violão, xilofone, saxofone. Minha irmã é quem começou a estudar piano em casa e eu ficava assistindo as aulas dela da escada. Aos 14 anos descobri que existia faculdade de música. Uma vizinha e grande pianista, Maria Cecília Truffi, me deu aulas por dois anos, antes de eu cursar música e regência na Faculdade Santa Marcelina.
E quando decidiu optar pela música como profissão?
Nunca fiz outra coisa na vida além de música. Me dediquei à música aos 21 anos quando saí da casa dos meus pais, que não viam com bons olhos a minha opção. Até entendo e respeito a posição deles, mas eu queria viver de música. Saí de casa, mas deixei o endereço de onde estava morando.
Como foi esse início?
Foi muito difícil. Confesso que até cheguei a passar fome porque eu não queria pedir dinheiro aos meus pais. Meu primeiro trabalho foi tocar no restaurante do Hotel Transamérica e como ainda não havia recebido salário, eu só jantava naquela época. Antes da minha apresentação, jantava e comia umas cinco sobremesas por noite. Isso foi bom porque caí na realidade da vida logo de cara. Não fiquei deslumbrada com a carreira. Além de tocar no hotel, eu já tinha alguns alunos de canto lírico. E ia me virando, fazendo trilha para filmes comerciais e documentários.
Você já cantava?
Cantar surgiu de uma necessidade de mostrar minhas composições para os outros. Sempre pediam que eu cantasse as músicas, mas sempre fui muito tímida. Fui tecladista e pianista de algumas bandas. E o pessoal me incentivava a cantar. No final do curso de composição e regência, fiz um curso de canto lírico, para não ter problemas nas cordas vocais, e acabei me formando também em canto.
Quem influenciou seu trabalho de compositora?
Muita gente. Na adolescência, que é quando você é mais suscetível, ouvia muito Caetano, Gil, Milton, Roberto Carlos. Na faculdade tive a influência do maestro Koellreutter, que trouxe a música erudita contemporânea para o Brasil. Ele deu aulas para Tom Jobim.
Você gosta de fazer trilhas para cinema?
Adoro, isso é o caviar da música. Paga bem mas não é sempre que aparece. Já fiz trilha para cinco filmes, um dos mais recentes foi o longa Cabra Cega, de Toni Ventura. Faço trilha para publicidade e TV. Um dos que acho mais representativo foi uma série de trilhas para um comercial semanal da Shell que passava aos domingos na TV Manchete. Também fiz trilhas eletrônicas. Quem me chama conhece meu trabalho e estilo.
Você já fez música para novelas?
Quase aconteceu uma parceria com a Rita Lee para o tema da novela Celebridade. Minha gravadora da época, Trama, só me liberaria se eu lançasse um single da música tema. A Som Livre, da TV Globo, não topou e acabei ficando de fora. Deixei de ter uma boa visibilidade e ganhar um bom dinheiro. É uma pena.
Como acontecem as parcerias?
Eu nunca vou atrás porque sou muito tímida. Com o Chico Buarque aconteceu por conta do Toni Ventura, e fiquei com tremedeira a hora que estava na frente dele. Com a Marina Lima foi um convite que ela me fez para participar do seu show acústico na MTV e estamos terminando uma nova música. Daniela Mercury participou do meu DVD a convite do meu empresário.
Como aconteceu o drum’n’bossa?
Sempre gostei de ritmos eletrônicos. Esse ritmo apareceu quando o DJ Patife remixou a “Sambassim”, que estourou nas pistas de Londres e depois fez sucesso no Brasil. Meu primeiro CD comercial vendeu mais de 120 mil cópias e me fez uma cantora internacional, e até faço turnês anuais.
Quem você gosta desta nova geração?
Gosto muito de compositores e cantores como Lenine, Maria Gadu, Vanessa da Mata, Zeca Baleiro e outros.
Suas músicas são reflexos de sua vida?
A cidade me inspira, mas o que gosto de fazer é musicar minhas poesias. Minhas músicas têm histórias que não exatamente aconteceram comigo, mas são extraídas das minhas experiências pessoais. Não sou uma poetisa. Quando faço uma letra, me aproprio daquela história. Faço primeiro a letra e depois a música. A maioria dos compositores faz ao contrário. Isso deve ser influência de fazer trilha para cinema.
Há quanto tempo você mora na região?
Há cerca de dois anos. Onde estou funciona meu estúdio e moro na parte de cima. Gosto de caminhar pelo bairro e tento ir a todos os lugares a pé, se possível. Circulo pela Vila Madalena, pela região da Praça dos Omaguás. Não sou muito baladeira e, quando saio, é mais para ver um amigo tocar. Um dos lugares que sempre vou é a Ecofit, para fazer meus exercícios, várias vezes na semana.
Fale um pouco do seu novo show.
O piano sempre foi para mim o instrumento mais expressivo. Neste novo show incluí um set com bases eletrônicas e retaguarda com os instrumentistas Du Moreira, no baixo e nos teclados, e Marcelo Effori, bateria e pads eletrônicos. Aqui toco sax alto e soprano, e guitarra, além de pilotar as programações e percussões eletrônicas. Reuni, além das minhas músicas, Lenine (‘Se Não For Amor, Eu Cegue’), de Roberto e Erasmo Carlos (‘Se Você Pensa’), do Criolo (‘Subirudoistiozin’), do Moska (‘Tudo Novo de Novo’) e de Gabriel Moura (a inédita ‘O Certo’). Ainda este ano, gravo CD e DVD onde dedico meu amor completo e irrestrito ao piano.